segunda-feira, 7 de março de 2011

Saudades...

Saudade é uma palavra exclusiva da língua portuguesa, nosso idioma foi o único que conseguiu (tentar) definir esse sentimento em apenas uma palavra. Porém, mesmo tendo esse vocábulo, ele nem de longe consegue traduzir a intensidade desse sentimento. Saudade é algo que não se mede, não se defini, não se combate... é algo que não acaba!

E a morte? Será ela só mesmo uma passagem? É confortável pensar que as pessoas que amamos nos deixam para ir a um outro lugar, melhor! No entanto, por mais que possamos ler mil textos, pensamentos, ouvir frases de pêsames, sentimentos e consolo, jamais se apagará de nós a saudade. Saudade dos momentos, dos gestos, das brincadeiras, das palavras e histórias....saudade de cada detalhe, que por menor que seja, é especial e faz falta, muita falta, quando simplesmente é arrancado de nossa rotina.

Qualquer perda é muito ruim, mas perder alguém que amamos é, sem dúvida, a pior delas. Como aceitar que simplesmente nunca mais veremos a pessoa? Como aceitar que nunca mais ouviremos a sua voz, conviveremos com as suas manias?

Meu querido nono nos deixou há pouco e com sua partida, deixou para trás um enorme rastro de saudade. Saudade porque ele era uma pessoa maravilhosa acima de tudo. Tinha seus defeitos, como qualquer um de nós, mas tinha qualidades e essas qualidades fizeram dele um homem muito querido, um homem de muitos amigos... uma pessoa simplesmente cativante.

Não vai ser fácil estabelecer uma nova rotina, agora sem sua presença tão constante, nosso "velhinho pacato", como eu mesma o apelidei anos atrás. Não vai ser fácil não ouvir mais as suas histórias, contadas de um jeito todo especial... quantas histórias nesses quase 87 anos de vida!!!

Como esquecer quem te viu crescer??? Quem fazia questão de ter dar “bom dia”, “boa viagem”, “bom trabalho” todos os dias??? Como esquecer quem estava sempre ali para conversar quando você simplesmente queria jogar conversa fora? É possível esquecer quem sempre tinha uma brincadeira para fazer ou quem sempre entrava nela, quando era você quem começava?

Não!!! Definitivamente, a resposta é NÃO! O tempo pode ajudar a amenizar a falta, mas jamais apagará memórias, histórias, recordações as mais variadas. E essas recordações são tantas que cada detalhe do dia a dia pode nos remeter a elas: uma frase dita, um jeito de segurar um copo ou uma caneca de chá, um cantinho da casa, um objeto, um prato doce ou salgado, datas, vinho... tudo!

Meu nono era meu segundo pai! Um pai totalmente diferente, é verdade, mas não menos querido e amado. Um pai que tinha um jeito todo seu de demonstrar afeto por todos e que apesar de brincalhão, era tímido quando recebia um abraço ou um beijo carinhoso de suas netas. Era um pai que cativava de verdade por ser simplesmente ele mesmo, sem medo de falar o que lhe vinha à cabeça, sem medo de comentar o que queria, falar o que queria, perguntar quando estava curioso (o que era quase sempre!!!). Era um pai que sempre queria ver tudo, saber sobre as suas novidades... era também teimoso como ele só! Sangue italiano, signo de Touro, uma mistura que não deixa dúvidas; pena que essa teimosia acabou sendo-lhe tão prejudicial, apesar de tantos avisos e de ter uma família tão ou mais teimosa que ele quando o quesito era vê-lo bem e com saúde!

É triste acreditar e aceitar que um dia perderemos alguém que gostamos tanto. Como seria bom se nosso amor pudesse torná-las imortais (fisicamente, é claro, porque em nossas memórias, nosso amor é capaz de imortalizá-las sim!).

Sei que não será fácil “comer bulinhas”, beber o tão famoso e querido vinho, sentar na área de casa em um final de tarde ou logo pela manhã, ver TV sem ninguém comentando cada detalhe, reparando cada rosto que aparece sem lembrar de meu vôzinho. Também não será fácil pegar os “feijões” e não ouvir alguém dizendo: “Quer um feijãozinho?”. É, vô, acho que nem mesmo você poderia imaginar que faria essa falta toda! Se existe mesmo um lugar para onde vamos após a nossa passagem pela Terra e se é mesmo possível ver, de lá, tudo o que acontece aqui, o vô deve estar rindo muito... muito alegre e orgulhoso da família que criou, de tudo o que cativou... Afinal, deixou saudades porque merece ser lembrado!

Obrigada por tudo, vô!!! Obrigada por ter nos dado a honra de sua convivência, de ouvir suas histórias, de aprender com você! Foi muito bom poder ter um avô assim nesses 23 anos da minha vida.

(M.O.)

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